COMO CRIANÇA NO REINO DE DEUS
( Mt. 18:1-6)
As pessoas lutam por poder, para terem domínio sobre as
outras. Vemos isto desde cedo, na história da humanidade. Em Gênesis 10.8 se
fala de Ninrode, o primeiro homem que se tornou poderoso na terra.
Infelizmente, esta luta por poder também se encontra no
cenário religioso. Encontramos nas igrejas gente que quer mandar e que deseja
ser importante. Antigamente bastava aos pastores terem o título de pastores,
que era considerado como honroso. Hoje alguns querem ser bispos, outros querem
ser apóstolos, há bispo primaz, e há quem se chama de patriarca. E há aquelas
pessoas que têm grandes carências emocionais e buscam na igreja o lugar para supri-las,
lutando por reconhecimento. Na realidade, isso é mais doença espiritual que
qualquer outra coisa.
Quem é o grandão? Quem é que manda? Os discípulos fizeram
esta pergunta a Jesus: “Quem é o maior no reino do céu?” (v. 1). Talvez
esperassem que ele dissesse que era aquele que fizesse mais milagres. Ou aquele
tivesse a voz mais forte e pregasse mais alto, alcançando mais pessoas. Eles se
preocupavam com isso, em serem os grandões. Tanto que mais tarde, nem
perguntaram. Discutiram entre si. E numa ocasião, dois deles chegaram com a
mãe, que fez um pedido bem estranho. Ela queria que os dois filhos ocupassem o
primeiro e o segundo lugares no céu (Mt 20.20-21). Mãe faz cada uma pelos
filhos! Nem ela nem seus filhos entenderam que este desejo de ser o maioral
quebrava a unidade do grupo. Mas acontece muito disto. As pessoas não ligam
para unidade. Querem se destacar. E muitas vezes, por causa da sua ambição de
poder, quebram a unidade da igreja.
A resposta de Jesus, como quase sempre sucedia, foi
desconcertante. Ele colocou uma criança no meio deles, disse-lhes que eles
precisavam se converter e se tornarem como crianças. Se não fizessem isso,
nunca entrariam no reino, quanto mais ser o maior no reino. Se não bastasse
isso, ele acrescentou: “Quem se tornar humilde como essa criança, esse será o
maior no reino do céu” (v. 4).
Como aprendemos de Jesus! A
primeira coisa que ele disse aos discípulos foi que eles precisavam se
converter! A maior marca da conversão não é mandar, e sim servir. Se eles
queriam mandar nos outros é porque ainda não tinham se convertido. Ainda não
compreendiam bem o evangelho. Em outra ocasião, falando sobre si mesmo, ele
disse: “Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir e para dar a vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). Ele nunca lutou por
títulos nem cargos nem se esforçou para dominar as pessoas. Ele as conquistou
porque as serviu. E é assim que ele tem conseguido muitos seguidores, ao longo
da história. As pessoas descobrem que Jesus as ama e pode fazer uma grande obra
na vida delas.
Muita gente ainda pensa como os discípulos de Jesus. Elas
querem ser importantes. Quando as pessoas agem assim, mostram que ainda não
colocaram Deus em primeiro lugar nas suas vidas. O primeiro lugar continua
sendo ocupado por elas. A doença chamada “importantite” mostra ausência de
conversão e um coração vaidoso. Os que querem mandar, na igreja, precisam de conversão. O convertido tem
desejo de servir e de ser útil. Quando
Paulo caiu no caminho de Damasco e Jesus se apresentou a ele, sua pergunta foi: “Senhor, que farei?” (At 22.10). Uma
pessoa convertida quer fazer algo, e não que os outros façam algo para ela.
O convertido coloca a Jesus em primeiro lugar na sua vida, e
deseja ser útil. O vaidoso, a pessoa não rendida a Cristo, mesmo que seja
membro de igreja, quer atenção e que as pessoas a sirvam.
Jesus usou a figura de uma criança. Criança não manda.
Geralmente obedece. Obedece aos pais, aos avós, aos professores. Cumpre ordens.
É com uma delas que Jesus compara o maior no reino dos céus. O maior não é o mandão. É o serviçal.
Além dessa lição de que o maior não é quem manda, mas quem
obedece, há outras duas lições de Jesus. A segunda é que o maior no reino dos
céus não é o forte, mas o fraco. Fisicamente, uma criança é mais fraca que um
adulto, mas Jesus mostra que o maior não é forte, mas o fraco. Parece absurdo?
Não. Lembre-se da palavra de Paulo: “Pois, quando sou fraco, então é que sou
forte” (2Co 12.10). Quando somos fracos, a graça de Deus age. Quando nos
julgamos fortes, não deixamos espaço para a graça. Porque graça é para fracos e
pequenos. Deus até pode usar pessoas arrogantes, porque é soberano, e age como
quer. Mas usa preferencialmente, como vemos na Bíblia, pessoas submissas, que
se quebrantam. Se você quer que Deus use
sua vida, não sonhe com grandeza. Sonhe em ser um instrumento.
A terceira lição de Jesus é que o maior não é o independente,
mas o dependente. Adultos se viram
sozinhos, encontram soluções por si, e fazem o que julgam que devem fazer.
Crianças são dependentes. Precisam da mãe para se arrumar e para se alimentar.
Precisam dos adultos para seu sustento. O maior no reino é como a criança
dependente. Dependente, sempre, de Deus, de sua graça e de seu poder. O maior é
aquele que não confia na sua capacidade pessoal ou na sua rede de amigos. O
maior não é aquele que se basta, mas aquele que necessita dos outros.
Adolescentes não querem ser crianças. Querem ser adultos. E
sonham em ser grandes. Mas se você quer desempenhar um grande papel no reino de
Deus, e deseja ser um instrumento nas mãos dele, lembre-se: seja criança. Lembre-se que Deus se vale dos pequenos, dos
que são insignificantes aos olhos do mundo, e os engrandece porque os usa. Não
queira ser o maioral. O maioral é Deus. Seja pequeno. Aí, você será grande!
( Pr. Isaltino Gomes
Coelho Filho)